Muito se falou no final do ano passado sobre Blumenau ter sido considerada pelo Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal, a melhor cidade para se viver em Santa Catarina e a 39ª no Brasil. O fato foi usado inclusive como propaganda política, mas antes de tudo, é necessário compreender o que esse Índice leva em consideração.
Criado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), o cálculo leva em conta o acesso da população à Saúde, Educação e oportunidades de emprego formal, de forma similar ao que a ONU faz para definir IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) nos mais diversos países. No entanto, ambos os cálculos possuem diferenças relevantes.
O estudo anual da federação carioca coloca no mesmo patamar, por exemplo, escolas públicas e particulares, agindo como termômetro de qualidade de vida, não de administração pública.
Blumenau tem um grave problema com a educação pública, como o lúgubre exemplo da EBM Tirantes nos mostra. E, independente de a construção estar em áreas de risco e alunos terem (teoricamente) sido transferidos para outra unidade de ensino, aquela que se perdeu deveria ser restabelecida. No entanto, a FIRJAN leva em conta também os colégios particulares.
O mesmo se vale para a Saúde, sofredora de um descaso que ficou explícito no surto da Gripe A e na greve dos servidores, que reclamavam até da falta de luvas cirúrgicas em Postos de Saúde. Mas a cidade tem três grandes hospitais, e isso também conta para o FIRJAN.
Sobre a questão do emprego, certamente estamos indo bem, mas não por causa de algum político e sim por entidades respeitáveis como a ACIB, a CDL e a AMPE, assim como grandes empresas como a Companhia Hering, a WEG, a Dudalina e a Altona, que investem pesado na região e criam cada vez mais oportunidades de emprego formal.
É lindo falar do orgulho que sentimos pela cidade número um do estado graças à Iniciativa Privada e que sempre é estampada com a bela face da Beira-Rio. Mas e quanto aos outros índices (aqueles que não vendem uma boa imagem política)?
Somos também a cidade com o maior número de favelas em Santa Catarina – no momento 17 e aumentando. Não houve nenhum outdoor ou nota de assessoria dizendo isso. E porque não usar a Rua Araranguá ou a Rui Barbosa como cartões postais também?
Essas pessoas vivem em comunidades de vulnerabilidade e costumam ser duramente negligenciadas pelo Poder Público.
Claro que essas comunidades são ocupações irregulares: ninguém discorda disso. Mas ninguém há de acreditar que uma pessoa more em uma favela porque gosta. Essas pessoas tiveram que ir para lá e isso já mostra a ineficiência de várias administrações, que permitiram que isso acontecesse. E a forma não-planejada e desenfreada com a qual a Construção Civil avança apenas mostra que a coisa tende a piorar bastante daqui para frente.
Blumenau não tem Segurança, tem vergonha dos menos afortunados que a transformaram em lar, tem uma malha viária que piora gradativamente apesar das tentativas de melhoria que beneficiam mais uns do que outros e se apóia num plano de longo prazo quase fantasioso.
O mérito da Educação vai quase que em sua unanimidade para instituições como o Colégio Sagrada Família, o Bom Jesus, o Energia, a Escola Barão do Rio Branco e faculdades como a FURB, a UNIASSELVI e o IBES. Quanto ao ensino público? Nunca pareceu ser prioridade.
A Saúde só é aceitável graças aos Hospitais Santa Isabel e Santa Catarina, além de os profissionais da área que se esforçam de forma hercúlea (e pouco reconhecida) para que o Hospital Santo Antônio seja uma referência para outros centros hospitalares públicos. Os planos de saúde, consultórios particulares e laboratórios privados, também tem grande parcela nessa ‘boa forma’. Mas pergunte àqueles que adoeceram durante o surto de Gripe A ou que foram barrados em campanhas de vacinação o que acham da Saúde Pública.
Em relação aos empregos – sejamos razoáveis – nem mesmo o Governo Federal pode estufar o peito para reclamar os créditos por sua criação sem a Iniciativa Privada. Menos ainda um Governo Municipal que sequer dá benefícios relevantes à novos empreendedores.
Blumenau é uma cidade boa para se viver, sim. Mas é porque o seu povo, os seus empresários e os seus trabalhadores assim a fazem. Não porque uma prefeitura ausente interferiu.
E, apesar de exemplos vergonhosos da falta de decoro que há na política local, eu me orgulho da cidade. Não da cidade como área urbanizada, mas sim da cidade que é uma representação daqueles que a construíram no passado, a mantém no presente e a planejam para o futuro. Aqueles que de fato trabalham por ela, sem precisar de cargos eletivos.
Mas não me envergonho das favelas. Envergonho-me, sim, do fato de elas precisarem existir e de, até hoje, terem meros arremedos da atenção periférica daqueles que nos ‘governam’.
Se nossa cidade é mesmo a melhor do estado, é algo difícil de definir e depende de muitas variáveis. Contudo, uma coisa é fato: nossos cidadãos realmente se importam em tentar fazê-la ser a cada novo dia um pouco melhor do que ela é.
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