Gregory Berns, professor de neuroeconomia da Universidade Emory (Geórgia, EUA), descobriu que os cães têm emoção, assim como os humanos. Resultados de exames de ressonância magnética no cérebro de doze cães mostram que eles usam a mesma parte do cérebro que nós para “sentir”.
O objetivo inicial de Berns era determinar como funciona o cérebro dos cães e o que eles pensam dos seres humanos. Para isso, ele olhou diretamente para o órgão dos animais, sem precisar contar com as limitações do comportamento.
Como os cães não podem falar, os cientistas baseiam-se em observações comportamentais para inferir o que os cães estão pensando – mas isso é obviamente complicado e pode ser pouco confiável.
As pessoas geralmente não gostam de fazer exames de ressonância magnética porque precisam ficar completamente imóveis durante o procedimento. Na prática veterinária convencional, os animais são colocados sob anestesia para garantir que não vão se mover.
“Mas isso significa que não podemos estudar suas funções cerebrais, pelo menos não coisas interessantes como percepção ou emoção”, explica Berns. Sendo assim, ele começou a treinar a sua própria cachorra, a Callie, em um simulador de ressonância magnética que ele havia construído em sua sala de estar.
Com a ajuda de seu amigo, o treinador de cães Mark Spivak, Callie aprendeu a colocar a cabeça em um descanso de queixo personalizado e manter-se completamente parada por até 30 segundos.
Depois de meses de treinamento e alguma tentativa e erro no scanner de ressonância magnética real, Berns foi recompensado com o primeiro mapa de atividade cerebral canina, e conseguiu determinar quais partes do cérebro de Callie distinguia cães e seres humanos familiares e não familiares.
Mais tarde, outros cães “certificados em ressonância magnética” foram mapeados. Os pesquisadores enfatizaram que a participação do animal era voluntária e que ele tinha o direito de abandonar o estudo. Eles só usaram métodos de treinamento positivos, e não houve nenhuma sedação ou restrição. Se os cães não queriam estar no scanner, eles podiam sair – assim como qualquer voluntário humano poderia durante uma pesquisa.
Berns descobriu uma notável semelhança entre cães e seres humanos na estrutura e função de uma região cerebral chave: o núcleo caudado.
O núcleo caudado fica entre o tronco cerebral e o córtex, e é rico em receptores de dopamina. Nos seres humanos, ele desempenha um papel fundamental na antecipação de coisas que gostamos, como comida, amor e dinheiro. Mas podemos “inverter” esta associação e inferir o que uma pessoa está pensando apenas medindo a sua atividade caudada?
Devido à enorme complexidade da forma como as diferentes partes do cérebro estão ligadas umas às outras, geralmente não é possível relacionar uma única função cognitiva ou emoção a uma única região do cérebro. Mas o núcleo caudado pode ser uma exceção. Partes específicas se destacam por sua ativação consistente para muitas coisas que os seres humanos gostam – tão consistente que, sob as circunstâncias corretas, pode prever as nossas preferências por comida, música e até mesmo beleza.
Nos cães, a pesquisa constatou que a atividade no núcleo caudado aumentou em resposta a sinais com mãos indicando alimentos. O caudado também se ativou para o cheiro de seres humanos conhecidos. E, em testes preliminares, ativou durante o retorno de um proprietário que tinha momentaneamente saído de vista.
“Será que esses resultados provam que os cães nos amam? Não é bem assim. Mas muitas das mesmas coisas que ativam o núcleo caudado humano, associadas a emoções positivas, também ativam o dos cachorros”, disse Berns.
Os neurocientistas chamam isso de homologia funcional, e pode ser uma indicação de emoções caninas.
A capacidade de experimentar emoções positivas, como amor e apego, significaria que os cães têm um nível de sensibilidade comparável à de uma criança humana. Berns acredita que isso levanta uma discussão para mudar a forma como os seres humanos pensam sobre os cães, que têm sido considerados propriedade.
Muitos países possuem leis que protegem os animais, mas elas também solidificam a ideia de que eles são coisas, “objetos” que podem ser descartados quando o “devido cuidado” é tomado para minimizar o seu sofrimento.
Berns sugere que um dia poderíamos defender os direitos de um cão com base nos achados de imagem cerebral. Se déssemos um passo além e concedêssemos a cães os direitos de uma “pessoa”, eles teriam uma proteção adicional contra a exploração. Fábricas, laboratórios e instituições poderiam ser condenados por violar o direito básico de autodeterminação de um cão – ou seja, além de apenas não maltratar, eles precisariam respeitar sua vontade.