Criar filhos não vem exatamente com um manual, e nem poderia – afinal, não é um ato simples a ponto de poder ser explicado em um só livro. Mas algumas dicas, baseadas em ciência, podem te ajudar – e muito – nesta tarefa.
A maioria das selecionadas abaixo vem da coleção reunida por Po Bronson e Ashley Merryman na obra “NurtureShock: New Thinking About Children” (em português, “Filhos – Novas Ideias Sobre Educação”, Editora LUA DE PAPEL). Confira:
1. Louve apenas o esforço
Não diga para seu filho que tudo nele é lindo e inteligente. Se você louvar apenas seu esforço, isto o ensina a persistir e que a melhoria é possível. “Enfatizar o esforço dá uma variável que a criança pode controlar”, diz o livro. “Enfatizar inteligência natural tira o controle da criança, e não fornece nenhuma boa receita para responder a um fracasso”.
Uma pesquisa anterior, de Carol Dweck, já havia descoberto que aqueles que pensam que a inteligência inata é a chave para o sucesso começam a esquecer a importância do esforço.
No entanto, também é preciso controlar o tempo que você passa louvando a criança, reconhecendo seus esforços. Se a persistência de uma criança for baseada apenas em recompensas, como elogios, quando esses param, o esforço também para.
2. Garanta que eles durmam bem
Perder uma hora de sono reduz a inteligência das crianças, em um efeito mensurável e considerável. A diferença de desempenho causada por essa uma hora a menos de sono é maior do que a distância de inteligência natural que ocorre entre crianças da quarta e sexta séries, por exemplo.
Problemas de sono frequentes podem causar problemas permanentes. Alguns cientistas acreditam que os problemas do sono durante os anos de formação podem causar alterações duráveis no cérebro. É até possível que muitas das características marcantes de ser pré-adolescente ou adolescente venham disso – como o mau humor.
Ficar acordado até tarde nos finais de semana é problemático também. Essa mudança, mesmo que somente aos fins de semana, provoca uma queda de 7 pontos no QI – o equivalente a exposição ao chumbo. O Dr. Paul Suratt, da Universidade de Virginia (EUA), estudou o impacto dos problemas de sono no resultado de testes de vocabulário feitos por alunos do ensino fundamental, e encontrou uma redução de sete pontos na pontuação.
Outro estudo com mais de 3.000 estudantes do ensino médio mostrou uma correlação clara entre o sono e notas. Adolescentes que tiveram uma média de cerca de quinze minutos a mais de sono tiravam nota mais alta que os outros, e esses tiraram notava maior que os tinham dormido menos ainda, e assim por diante.
3. Crie filhos honestos
Não, você não sabe quando seu filho está mentindo. Uma pesquisa com centenas de pessoas mostrou que pais não sabem quando seus pupilos estão dizendo a verdade, pois seus palpites não são melhores do que o acaso.
Crianças querem agradar adultos. Por isso, é melhor dizer que a verdade vai te fazer feliz, e a criança ficará mais propensa a contar o que realmente aconteceu, e não o que ela acha que você quer ouvir.
Você deve dizer a criança que não vai ficar chateado com a verdade, muito pelo contrário, vai ficar feliz. Esta é uma oferta de imunidade e uma rota clara para a sinceridade. Crianças pequenas mentem para fazer os outros felizes, pensando que eles querem ouvir boas notícias, e não a verdade.
Outro truque rápido para ouvir a verdade é dizer: “Vou lhe fazer uma pergunta, mas antes disso, você promete dizer a verdade?”. Esta promessa reduz a mentira em 25%.
4. Faça e imponha regras
É um mito que ser muito rigoroso causa rebelião e mau comportamento nas crianças. Não, você não deve ser duro demais, mas crianças precisam, sim, de regras. A falta de regras é entendida por elas como um sinal de que seus pais não se importam com os filhos. Pais que estabelecem regras e as fazem ser cumpridas de forma consistente também são pais carinhosos, cujos filhos mentem menos.
A chave é o diálogo. Pais que fazem regras e conversam sobre elas com seus filhos, explicando por que elas existem, levam as crianças a compreendê-las e obedecê-las. Elas percebem o apoio que têm, ao mesmo tempo em que experimentam certa liberdade para tomar suas próprias decisões.
Pais que são muito controladores deixam as crianças entediadas. Mesmo que elas façam um monte de coisa, não é nada do que elas queriam fazer – não há motivação intrínseca. Com seus pais sempre preenchendo seu tempo livre, elas não sabem como preenchê-lo por conta própria. Quanto maior o controle dos pais, mais propensa a criança é a experimentar o tédio, e um estudo já confirmou a hipótese de Linda Caldwell que os adolescentes se voltam para bebidas e drogas porque estão entediados.
5. Argumente com seus filhos adolescentes
Argumentar e discutir de forma saudável com os adolescentes produz bons resultados. Uma pesquisa da Universidade de Rochester confirmou que, a longo prazo, conflito moderado com os pais durante a adolescência está associado a uma melhor adaptação do que nenhum conflito ou conflitos frequentes.
Mais de 3/4 das filhas sentiram que argumentar com sua mãe reforçou seu relacionamento, e apenas 23% das filhas sentiram que a discussão foi destrutiva. A percepção da “briga” foi muito sofisticada, muito mais do que o previsto para adolescentes – elas viram a discussão como uma maneira de ouvir o ponto de vista dos pais.
6. Brigar – e resolver a briga – na frente dos filhos não é ruim
Brigar com o seu cônjuge na frente dos filhos pode ser uma coisa boa – se as crianças veem o argumento ser resolvido na frente delas. Começar a brigar e tirar a criança da cena é o que causa problemas.
Em um estudo, um terço das crianças reagiu de forma agressiva depois de testemunhar um conflito – elas gritaram, ficaram com raiva, etc. Mas deixar a criança testemunhar não apenas a discussão, mas a resolução dela mudou totalmente a figura. Quando a criança viu a disputa se encerrar de uma maneira boa, se acalmou, independente da intensidade da briga.
Ser exposto a conflitos conjugais construtivos pode até ser bom para as crianças, se insultos e agressão são evitados, claro. Isso melhora a sua sensação de segurança e aumenta o seu comportamento pró-social na escola, conforme avaliado por professores. Mas a resolução final tem que ser sincera, e não manipulada, pois as crianças percebem.
No geral, se ela presenciar uma briga e um desfecho pacífico, vai aprender uma lição de resolução de conflitos: a discussão lhes dá um exemplo de como se comprometer e reconciliar, uma lição perdida para a criança poupada do final da briga, que fica só com o sentimento negativo.
7. Peça que eles mantenham um diário de gratidão
Em um estudo famoso, o Dr. Robert Emmons da Universidade da Califórnia em Davis (EUA) pediu que estudantes universitários mantivessem um “diário de gratidão” ao longo de dez semanas, listando cinco coisas que aconteceram na última semana pelas quais eles eram gratos. Os resultados foram surpreendentemente poderosos – os alunos que mantiveram o diário de gratidão eram 25% mais felizes, eram mais otimistas sobre o futuro e ficaram doentes com menos frequência durante o período do estudo. Eles até fizeram mais exercício físico.
Fonte: BUTWT