Aversão à felicidade
Você acredita que muitas pessoas simplesmente não querem ser felizes - ou, pelo menos, não querem parecer felizes?
O fato é que, embora ser feliz e satisfeito com a vida seja o objetivo final de milhões de pessoas, outras fogem abertamente desses sentimentos.
Isso frequentemente ocorre por causa da crença persistente de que a felicidade faz com que coisas ruins aconteçam, explicam Mohsen Joshanloo e Dan Weijers, da Universidade Vitória (Nova Zelândia).
A dupla publicou um estudo que é o primeiro a analisar o conceito de aversão à felicidade, analisando como várias culturas reagem de forma diferente a sentimentos de bem-estar e satisfação.
"Um desses fenômenos culturais é que, para alguns indivíduos, a felicidade não é um valor supremo," explicam Joshanloo e Weijers.
Felicidade no Ocidente e no Oriente
Segundo os pesquisadores, a aversão à felicidade existe tanto nas culturas ocidentais quanto nas culturas não-ocidentais, embora a felicidade seja mais valorizada no Ocidente.
As culturas ocidentais são mais impulsionadas por um desejo de maximizar a felicidade e minimizar a tristeza. Não parecer feliz para os outros é muitas vezes um motivo de preocupação, ainda que a sociedade de consumo banalize o conceito de felicidade.
Nas culturas não-ocidentais, por sua vez, a felicidade é uma emoção menos valorizada. Os ideais de harmonia e conformidade social frequentemente ficam em desacordo com a busca da felicidade pessoal e o apoio a valores individualistas.
Para se sentir mais feliz, fale sobre experiências, e não sobre coisas. [Imagem: Wikimedia/Yann] |
Nas culturas que não dão tanto valor à felicidade, frequentemente existe a crença de que felicidade demais leva à infelicidade e outras consequências negativas que superam os benefícios de tais sentimentos positivos.
O que os outros pensam
Tanto nas culturas ocidentais quanto nas não-ocidentais, algumas pessoas colocam a felicidade em segundo plano porque acreditam que ser feliz torna uma pessoa pior e que os outros podem vê-la como egoísta, chata ou superficial.
Pessoas em culturas não-ocidentais, como o Irã e países vizinhos, temem que, se parecerem felizes, serão alvo de mau-olhado ou alguma divindade sobrenatural pode ressentir-se da sua felicidade, o que lhes reservará um sofrimento qualquer de graves consequências, superando qualquer eventual vantagem da felicidade inicial.
Isto é particularmente problemático quando já se demonstrou que a felicidade aparece junto com as pessoas, e não com coisas.
"Algumas das crenças sobre as consequências negativas da felicidade parecem ser exageros, muitas vezes estimuladas pela superstição ou conselhos anacrônicos sobre como desfrutar de uma vida agradável ou próspera. No entanto, considerando-se as inevitáveis diferenças individuais no que diz respeito a tendências culturais ainda dominantes, não se pode esperar que nenhuma cultura mantenha a unanimidade sobre quaisquer destas crenças," concluem os pesquisadores.
Fonte: BBC