A mudança climática está conosco. Uma década atrás, tratava-se de uma conjectura. Agora, o futuro está se revelando diante dos nossos olhos. Esquimós do Canadá veem isso no desaparecimento do gelo do Ártico e do permafrost (tipo de solo de grandes altitudes e altas latitudes também, formado por gelo, terras e rochas, e que geralmente permanece congelado). Moradores de localidades mais pobres na América Latina e no Sul da Ásia percebem isso em tempestades e inundações letais. Europeus, por sua vez, verificam em desaparecimentos glaciais, incêndios de florestas e ondas de calor fatais.
Já os cientistas percebem em estudos que têm como objeto anéis de árvores, corais antigos e bolhas de ar presas em profundas camadas de gelo.
Pessoas estão causando a mudança climática pela queima de reservas naturais de carvão, petróleo e gás natural
Pessoas do mundo todo estão causando a mudança climática pela queima de reservas naturais de carvão, petróleo e gás natural
Tudo isso revela que o mundo jamais foi tão quente quanto agora, por um milênio ou mais. Os dois anos mais quentes registrados ocorreram desde 1998 (o outro é 2002), 19 a 20 vezes mais quentes do que 1980. E a Terra provavelmente nunca aqueceu tão rápido quanto nos últimos 30 anos --um período em que influências naturais na temperatura, como ciclos solares e vulcões, tiveram uma diminuição. Estudos sobre a inércia térmica dos oceanos sugerem que há mais aquecimento por vir.
Climatologistas disseram, em relatórios para o Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), que estamos presenciando de fato o aquecimento global causado por atividades humanas.
Estufa global
Pessoas estão causando a mudança climática pela queima de reservas naturais de carvão, petróleo e gás natural. Isso lança bilhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2) todos os anos, embora as mudanças possam realmente terem começado com o surgimento da agricultura, segundo afirmam alguns cientistas.
O CO2 é um gás de efeito estufa que retém a radiação solar na troposfera, a camada da atmosfera mais baixa. Ele se acumulou junto a outros gases-estufa emitidos pelo homem, como metano e clorofluorcarbonetos (CFCs).
Se as tendências atuais continuarem, vamos aumentar as concentrações atmosféricas de CO2 para o dobro dos níveis pré-industriais durante este século. Isso provavelmente é o suficiente para aumentar a temperatura global entre 2ºC e 5ºC. Algum aquecimento é certo --mas o grau será determinado pelas reações que envolvem derretimento de gelo, oceanos, vapor d'água, nuvens e mudanças na vegetação.
O aquecimento está trazendo outras mudanças imprevisíveis. O derretimento das geleiras e a precipitação estão causando transbordamento de rios, enquanto a evaporação esvazia os outros. Doenças (a dengue, por exemplo) se espalham com mais facilidade. Algumas plantações crescem mais rapidamente, enquanto outras veem sua colheita reduzida pelas pragas e pela seca.
Furacões estão se tornando mais frequentes e destrutivos --como o Katrina, em 2005. O gelo do mar do Ártico está derretendo mais rápido a cada ano, e há crescentes temores de que as correntes oceânicas se interrompam e mantenham a Europa quente. Confrontos sobre a diminuição dos recursos de água devem causar conflitos em muitas regiões.
Como ecossistemas naturais --recifes de corais, por exemplo-- são interrompidos, a biodiversidade é reduzida. A maioria das espécies não pode migrar com rapidez suficiente para se manter, embora algumas já estejam evoluindo como resposta ao aquecimento global.
A expansão térmica dos oceanos, combinada com o derretimento do gelo na terra, também está elevando o nível do mar. Neste século, a atividade humana poderia provocar um degelo irreversível do gelo da Groenlândia e as geleiras da Antártica. Isso seria condenar o mundo a um aumento do nível do mar de seis metros --o suficiente para inundar terras ocupadas por milhares de milhões de pessoas.
O aquecimento global seria maior se não fosse por partículas de enxofre e outros poluentes que bloqueiam a luz solar, e porque as florestas e os oceanos absorvem cerca de metade do CO2 que produzimos. Mas a taxa de acúmulo de CO2 na atmosfera tem aumentado desde 2001 --sugerindo que a capacidade da natureza de absorver o gás pode ter chegado ao limite. Pesquisas recentes sugerem que "absorventes" naturais de C02, como pântanos e florestas, estão começando a liberar o gás.
Medidas de reversão
De acordo com o IPCC, o mundo precisa melhorar rapidamente a eficiência de seu uso de energia e desenvolver combustíveis renováveis que não façam uso do carbono, como energia eólica, solar, das marés e talvez a energia nuclear.
Significa, também, desenvolver novos métodos de conversão dessa energia limpa em força motriz, como células combustíveis de hidrogênio para carros.
Outras soluções menos convencionais incluem ideias para evitar o aquecimento por "megaengenharia" do planeta com espelhos gigantes para desviar os raios do Sol, semear oceanos com ferro para proliferar algas, ou enterrar gases de efeito de estufa abaixo do mar.
O ponto principal é que vamos ter de cortar as emissões de CO2 em 70% a 80%, apenas para estabilizar as concentrações do gás na atmosfera --e, assim, as temperaturas. Quanto mais rápido fizermos isso, menos insuportavelmente quente nosso mundo será no futuro.
Fonte: FRED PEARCE da New Scientist
Nenhum comentário:
Postar um comentário