Brasil é mais desigual que a Argentina no IDH

Diferença do maior para o menor indicador nos Estados brasileiros é quase o dobro da distância entre a melhor e a pior província argentina

As desigualdades regionais no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil são quase o dobro das da Argentina, de acordo com os números mais recentes dos dois países. A distância entre o maior IDH brasileiro (de Brasília) e o menor (Alagoas) é 95% maior que o fosso entre o máximo (província de Buenos Aires) e o mínimo (Formosa) argentino.

Os números da Argentina estão no Relatório de Desenvolvimento Humano da Argentina, recém-divulgado pelo PNUD, e referem-se a 2006. Os do Brasil estão no estudo Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente – A experiência brasileira recente, lançado no ano passado, e são de 2005.

Embora o IDH do Distrito Federal (o maior do Brasil, de 0,874) supere o índice da província autônoma de Buenos Aires (o maior IDH da Argentina, com 0,869), no extremo oposto a vantagem se inverte. O pior índice argentino (Formosa, com 0,768) é maior do que o de metade dos Estados brasileiros, ficando muito acima de Alagoas, com 0,677. Na Argentina, 15 das 24 províncias podem ser consideradas de alto desenvolvimento humano (IDH igual ou maior a 0,800); no Brasil, apenas 10 de 27 unidades da federação.

Além disso, a desigualdade regional também caiu mais na Argentina, apesar da crise enfrentada pelo país no início desta década. De 1996 a 2006, a diferença entre a província argentina com pior e a com melhor IDH recuou 10%; no Brasil, de 1995 a 2005, a diminuição foi de 9%.

“O Brasil, historicamente, tem grandes diferenças entre as regiões Sudeste e Norte e Nordeste, que se refletem em indicadores sociais muito desiguais. A industrialização concentrada no Sudeste na década de 50 levou a fluxos de migração nos anos 70 e 80 que aprofundaram a desigualdade. As regiões mais populosas receberam mais verbas para infraestrutura e o Nordeste foi desfavorecido, criando condições piores de serviços públicos”, analisa Renato Baumann, diretor do escritório da CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e o Caribe) no Brasil e coordenador do estudo que traz o IDH dos Estados brasileiros.

Na Argentina, observa o economista, isso não aconteceu com a mesma intensidade. “A distribuição é mais homogênea, herança um pouco do modelo de imigração. Ao contrário do Brasil, que baseou suas atividades no trabalho escravo durante muito tempo, a Argentina começou mais cedo a receber migração para trabalho assalariado na manufatura do couro, o que pesa menos que a escravidão em termos de indicadores sociais para as próximas gerações”, compara Baumann.

Semelhanças

Embora o nível de desigualdade entre as regiões seja diferente, em ambos os países os piores índices se concentram na região Nordeste e os melhores, no Sul. Enquanto os nove estados nordestinos detêm os nove piores IDHs no Brasil, das seis províncias de Gran Chaco e Mesopotâmia, no Nordeste argentino, cinco estão nas últimas posições.

Já nas duas regiões mais ao sul da Argentina, Patagônia e Pampas, estão oito dos dez melhores IDHs do país. Coincidentemente, os sete estados do Sudeste e do Sul estão entre os 10 melhores IDHs brasileiros.

“O sul da Argentina tem poucas pessoas, é rico, e tem algumas das terras mais férteis do mundo. Com poucas pessoas e uma riqueza grande sendo gerada pelo agronegócio, parece plausível que a renda puxe o IDH para cima neste caso”, pontua Baumann. A hipótese de Baumann parece se confirmar nos dados divulgados pelo relatório de Desenvolvimento Humano da Argentina. Entre as dez províncias com maior subíndice de renda do IDH, oito estão localizadas no sul do país.

A Argentina ocupa atualmente a 49ª posição no ranking do IDH, com destaque no subíndice de educação, o 37º melhor do mundo. Já o Brasil está na 75ª posição, também considerado de alto desenvolvimento humano, embora seus subíndices de renda e de esperança de vida estejam abaixo de (0,800). A educação é também o campo onde os brasileiros se saem melhor (70ª posição do ranking).

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