por CLÁUDIA COLLUCCI
enviada especial da Folha de S.Paulo a Goiânia
Em que situação o homem deve fazer a terapia de reposição hormonal? A questão que ainda divide opiniões médicas acaba de ganhar uma nova diretriz da Sociedade Brasileira de Urologia, lançada durante congresso da especialidade que terminou anteontem em Goiânia.
Estima-se que, a partir dos 50 anos, 15% dos homens sofram queda nos níveis de testosterona, a chamada andropausa, e sejam candidatos à reposição do hormônio. De acordo com a nova diretriz da SBU, a terapia de reposição só deve ser indicada quando a queda hormonal for comprovada por exames laboratoriais e estiver associada a sintomas clínicos, como disfunção erétil, alterações de humor e diminuição da libido, da massa muscular e da densidade óssea.
O problema é que os valores normais da testosterona têm muita variação (vão de 300 a 1.000 nanogramas por decilitro) e dependem das diferentes metodologias laboratoriais. Diante disso, há médicos que defendem que a reposição seja feita mesmo se o exame estiver normal, desde que o homem apresente sintomas clínicos da queda hormonal.
O urologista americano Abrahan Morgentaler, professor da Harvard University, é um deles. No Congresso Brasileiro de Urologia a convite do laboratório Bayer (fabricante de uma das drogas utilizadas na reposição), ele foi enfático em defender a reposição hormonal masculina mesmo quando os níveis estiverem normais.
Segundo ele, há homens que apresentam queda da testosterona e não têm sintomas. Com outros, ocorre o inverso. "O médico precisa olhar para o paciente, não para os testes sanguíneos", disse Morgentaler.
Não é tão simples. Os sintomas clínicos da andropausa se confundem com outros problemas, como a depressão. "O diagnóstico não é fácil. Se o cara perdeu o emprego, está deprimido, vai ter esses sintomas [iguais aos da andropausa]", afirma Archimedes Nardozza Júnior, chefe do setor de disfunções sexuais da Universidade Federal de São Paulo.
A medicação desnecessária também aumenta os riscos hepáticos, cardiovasculares e de infertilidade. "Quando você eleva a testosterona acima dos níveis normais, pode haver aumento da viscosidade sanguínea e o paciente fica mais sujeito a ter infarto e acidente vascular cerebral", explica o urologista Celso Gromatzky, professor da Faculdade de Medicina do ABC e um dos coordenadores das novas diretrizes da SBU.
Outro risco muito discutido é o do câncer da próstata. "A reposição não causa câncer. O único risco é se o paciente já tem um tumor pequeno e não sabe disso. Por isso, tem de investigar muito e descartar outras causas antes de se receitar o hormônio", diz o urologista paulista Aguinaldo Nardi.
As novas diretrizes da SBU, redigidas a partir de uma revisão da literatura médica, recomendam que os médicos façam duas dosagens da testosterona total e investiguem se o homem não apresenta outros problemas, como hiperprolactinemia, que causa queda da testosterona. No primeiro ano de tratamento, o paciente deve realizar consultas e exames de sangue a cada três ou seis meses.
Para os urologistas, quando bem indicada, a reposição hormonal traz muitos benefícios aos homens, como melhora da libido e da densidade óssea.
A jornalista Cláudia Collucci viajou a Goiânia a convite da Sociedade Brasileira de Urologia
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