Estudo mapeia dez diferentes tipos de câncer de mama

Um estudo inédito revelou que o que se conhece atualmente como câncer de mamapode ser desdobrado em dez diferentes tipos, abrindo caminho para uma revolução no tratamento, que deve ficar cada vez mais específico para cada tipo de tumor.


A pesquisa, realizada por cientistas do Canadá e da Grã-Bretanha e publicada na prestigiada revista Nature, analisou mais de 2 mil mulheres com câncer, e seus resultados devem começar a ser aplicados em hospitais dentro de no mínimo três anos.
Para os especialistas, é possível comparar o câncer de mama a um mapa do mundo. Os exames atuais, mais abrangentes, teriam a capacidade de classificar a doença em diferentes “continentes”.
Agora, com as novas descobertas, serápossível mapear a doença em até dez diferentes tipos, com um grau de definição muito maior, como se fossem “países”.”O câncer de mama não é uma doença, mas sim dez diferentes doenças”, disse o chefe do estudo, Carlos Caldas.
- Nossos resultados abrem caminho para que no futuro os médicos possam diagnosticar que tipo de câncer uma mulher tem e os tipos de remédios que vão ou não funcionar, de uma maneira muito mais precisa do que é possível atualmente – acrescenta o pesquisador.
No momento, os tumores são classficados de acordo com sua aparência sob as lentes de microscópios e exames com “marcadores”. Aqueles identificados com “receptores de estrogênio” deveriam responder a tratamentos que utilizam o tamoxifeno (um modulador seletivo da recepção deste tipo de hormônio) e os classificados com “receptores Her2″ deveriam sofrer impacto da terapia com o medicamento Herceptin.
A grande maioria dos tipos de câncer de mama (mais de 70%) responde bem aos tratamentos com hormônios. Entretanto, a reação às terapias varia muito. “Alguns respondem bem, outros fracassam terrivelmente. Claramente precisamos de uma classificação mais detalhada”, diz Caldas.
Análise: O que isto representa para os pacientes?
O potencial das descobertas deste estudo é vasto e pode ter um papel transformador no tratamento do câncer de mama ao redor do mundo. No entanto, a aplicação da nova classificação ainda levará anos e o impacto imediato para pacientes será limitado.

Há diferenças claras entre as taxas de sobrevida para cada tipo de câncer identificado. As variedades dois e cinco, por exemplo, tendem a apresentar cerca de 40% de chances de sobrevida de 15 anos. Os tipos três e quatro têm 75% de chances de sobrevida do mesmo período.
Em termos de tratamento, as notícias são ruins. Até o momento há uma terapia bem delimitada para apenas um dos dez tipos: o medicamento Herceptin.
Os outros grupos permanecerão com procedimentos genéricos, à base de sessões de quimioterapia e radioterapia.

A esperança é que no futuro novos medicamentos sejam criados para cada tipo específico da doença.
Revolução
Os pesquisadores analisaram detalhes da genética celular de mais de 2 mil tumores, levando em consideração quais genes haviam sofrido mutação, quais estavam se multiplicando e quais estavam sendo desligados.

Após as análises, as células cancerígenas foram agrupadas em dez diferentes classificações, denominadas “IntClust” um a dez. ”Este é o maior estudo já realizado sobre os diferentes tipos de tumores de câncer de mama e vai alterar a maneira com a qual analisamos a doença, tendo um impacto enorme na forma de diagnosticar e tratar o câncer de mama nos próximos anos”, disse Harpal Kumar, chefe do instituto de Pesquisa do Câncer da Grã-Bretanha, que financiou a pesquisa.
Os cientistas precisam agora comprovar os benefícios da nova classificação antes que médicos e hospitais de todo o mundo passem a utilizá-la –um processo que pode levar de três a cinco anos.
Para Delyth Morgan, chefe de campanhas contra o câncer de mama na Grã-Bretanha, o estudo pode “revolucionar a maneira com a qual a doença é diagnosticada e tratada”.
A pesquisa é um exemplo do que se conhece atualmente por “medicina personalizada” –que consiste em tratar uma doença a partir do mapeamento detalhado de seu comportamento genético.
O princípio pode, no futuro, ser aplicado às pesquisas que medem a resposta a medicamentos para doenças cardiológicas e tratamentos para conter o vírus HIV, dentre outros.

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